quinta-feira, 30 de abril de 2009

*Carta de Suicídio*

"Ontem eu vivi

Hoje eu morri

Deixo aqui o meu tormento

De não suportar o sofrimento

Deixo aqui minha lembrança

Que um dia fui criança

Vida vivida

Vida sem saída

Vida sem volta

Coração sem porta

Papel escrito

Sentimento aflito...

Alma ferida

Estou viva ainda?

Doçura que dói

Beleza que destrói

Inferno que esquenta

Céu não me sustenta

Queimem meu corpo

Quero sentir o fogo

Joguem minhas cinzas

Para a dança da vida...

Ontem eu vivi

Hoje eu morri

A vida continua longe daqui

Não chorem

Não lamentem

Prefiro ser morto-vivo

Do que vivo-morto

Prefiro cinzas dançantes

Do que sofrimentos inconstantes

Prefiro me suicidar...

Do que esquecerem me enterrar.

Isto não é um lamento

Apenas um depoimento

Isto não é uma poesia

Muito menos fantasia

Isto não pode ser

Visto

Estudado

Analisado

Copiado...

Isto pode ser...

Lido

Sentido

Partido...

Se danço...

Logo

Longe

Existo!

Não aqui

Nem no céu

Nem no inferno...

Mas no infinito...

Eu existo!

Ontem eu vivi

Hoje eu morri."

(Julieta Menezes)

Coreografia:*SUICIDA* Coreógrafa:Julieta Menezes

domingo, 19 de abril de 2009

*MICROPULSAÇÃO CORPORAL*

*Esta semana estou viajando para a qualificação do meu mestrado e deixo aqui um dos meus escritos que estava arquivado. A inspiração da minha pesquisa não poderia deixar de ser a "DANÇA".

O título surgiu de uma noite mal-dormida,mas bem-vinda, pois foi assim que nasceu: <Break: O 'grito' corporal da periferia> Filho ainda em construção e evolução...*

 

"Corpo que se reparte

O movimento agora é em partes

Corpo que se quebra

Ao sentimento não tem regra

 

Dançam em baixo e em cima

O desafio é a sua rima

Na rua quem manda é o corpo

Para ter respeito precisa estar no topo

 

Corpo que se movimenta

Um novo estilo inventa

Corpo que dança na rua

Na sociedade ele atua

 

Se o pulso pulsa

A pulsação expulsa

E o pulso ainda pulsa

 

O b-boy é corporal

Sua linguagem é a não-verbal

Atualmente ele está na moda

Mas o que te interessa é a roda

 

Corpo que se articula

Na roda manipula

Corpo que se domina

A arte é sua mina

 

Cabeça para baixo

Cabeça para cima

A rua lhe ensina

 

Corpo que aterriza

Corpo que voa

Nas ruas não estão à toa

 

 

Sangue articulado

Para o mundo passam o recado

Pessoas no sistema

Enxergam o 'break' como problema

 

Membros que se repartem

Fluência que não se parte

Indisciplina disciplinada

Sua busca é indeterminada

 

Corpo que dança no chão

No piso não tem colchão

Corpo muito flexível

No concreto se torna visível

 

Desarticulado com o sistema

Ir para as ruas é seu lema

Enquanto a sociedade não repara

Por meio da dança se ampara"

 

(JULIETA MENEZES)

 

 

 

segunda-feira, 13 de abril de 2009

*CULPA*

   

"Não culpo a culpa

A culpa que não tem desculpa

Quem procura o culpado?

O governo?

Você?

O estado?

Quem é o tapado?

O que não quer ver?

ou o que vê e finge não entender?

Não culpe a mim

Nem a você...

Não me aponte

Não me desponte

Não me encontre

Para atravessar a ponte.

Culpo o culpado

que usa a culpa

como desculpa...

Culpo o estado

que usa o tapado

como culpado...

Me cale

Me cegue

Me ensurdeça

Mas não me enlouqueça...

Me jogue

Me xingue

Me bate

Mas não me mate...

Cegueira que enxerga

O visível do invisível

Surdez que escuta

O silêncio do movimento

Fala que se cala

Vomitando as palavras

Culpa que desculpa

O culpado da culpa

Divida sua dívida

Da dúvida com a vida."

(Julieta Menezes)

 

sexta-feira, 10 de abril de 2009

*CARNE SANTA*

"O cristianismo exclamou:

Na carne mora o pecado!

A dança passou a ser abolida

A alegria ficava sem saída

O que o Santo Agostinho não sabia

É que a carne ele comia

Aonde mora o pecado?

Dentro ou fora?

O animal ele devora

Mas o corpo ele reprova

Hipocrisia é FODA!

Assassinato corporal

A igreja é mesmo paradoxal

Viver feliz é imoral

Dançar é pecado

E MATAR?

Está autorizado

Índio mandado

Povo ameaçado

Dono da razão

Ignora a emoção

E a DEUS pede perdão

Em rios de sangue nadaram

E a humanidade nada ensinaram

Só que dançar era coisa do diabo

Infelizmente não olhavam o seu rabo

Me perdoe Santo Agostinho

Mas detesto este jeitinho

De se titular de santinho

De se cobrir com um manto

Escondendo todo o espanto

Para mim isto não é santo." (JULIETA MENEZES)