sexta-feira, 24 de setembro de 2010

*BUSCA*

“Ando... Corro... Percorro... Uma trilha i sonora, O silêncio me guia na escuridão dos trilhos, calcados por peles expostas no invisível que piso. Paro... Ando... Atropelo... Talvez busque por toda minha vida os contornos geográficos da alma, acredito que em cada um de nós esconde-se uma paisagem interna, para alguns se chama sorte encontrá-la, correndo tranquilamente como água sobre pedras, vigor acomodando-se aos seus contornos fluidos, e se sentem ‘em casa’. Outros conseguem encontrar no lugar em que nasceram; outros ainda podem abandonar uma cidade à beira-mar, sentindo-se cansados e sedentos, descobrindo-se vigor no deserto. Existem ainda aquelas pessoas que nascem no sossego dos campos e que sentem prazer somente na solidão intensa e agitada da grande metrópole. Para alguns, a busca é pela nódoa de um outro; um pai ou um filho, um avô ou uma mãe, um irmão, um amante, um marido ou até um inimigo. Podemos passar o resto da vida felizes ou infelizes, bem realizados ou fracassados, amados ou não amados, sem nunca pararmos imóveis pelo choque do reconhecimento, sem jamais sentirmos a angústia do momento em que o grilhão retorcido em nossa alma se desprende, e afinal encontramos nosso lugar. Já estive ao lado de jovens infratores com corpos amarrados, mas corações libertados, olhavam com espanto e incompreensão a dor e o sofrimento de seus destinos, sentidos por um mundo que jamais sentiram-se amados. Como também já estive ao lado de jovens como corpos livres, mas corações amarrados, correndo em reverso em busca de sentidos.” Julieta Menezes

domingo, 18 de julho de 2010

*QUADROS*(Homenagem a Profª Norma Takeuti)

"Morre todos os dias muitas pessoas simbolicamente:

Pela castração de pensamentos, de movimentos, de idealizações, de paixões e etc.

Eu chamaria de morte matada este tipo de assassinato e não de morte morrida, a qual chamaria a morte acontecida de fato.

Te pergunto:

Qual a pior morte?

Morte morrida ou morte matada?

Como queres viver?

Morto vivo ou Vivo morto?

Isto aqui não é uma brincadeira popular, deixemos as crianças na ludicidade e vamos refletir esta questão como adultos que somos.

Será que ser vivo é apenas estampar a cadeira em uma universidade depois de tomar um banho quente, se perfumar 'a La francesa' e vestir um jeans 'diesel'?

É muito incompreensível para mim compreender que um ser passe nove meses para nascer e que ainda depois de nascido passe por várias experiências em todo seu processo de desenvolvimento apenas para estampar um quadro na parede social.

Não viemos ao mundo para sermos personagens de um livro autobiográfico exclusivamente.

Não viemos com uma história contada e acabada.

Somos personagens ativos de outros autores e escritores não somente do 'eu', mas do 'nós'.

Está na hora de sair do quadro, é preciso cansar da monotonia engessada da estampa, não somos 'obras de arte', não podemos ser vendidos, trocados ou guardados em museus.

Quero ouvir vozes incontroláveis de indignação, protestos e dúvidas.

Sinto a necessidade de enxergar corpos que falem singularmente e não pluralmente, indiferentes aos vômitos dos meios de comunicação de massa.

Vamos deixar de ser vivo morto, a nossa missão no universo não é somente de 'existir', mas 'resistir' diariamente a insistência da sociedade em nos assassinar lentamente.

Somos vítimas de um crime sem julgamentos, sem justiça e sem direitos.

Estamos jogados em prisões com corações amarrados e sentimentos atados.

A liberdade está do outro lado da porta e se não abrir não tem mais volta

E te afirmo:

A chave está em cada um de nós.

Vasculhe...

Limpe...

Passe horas desarrumando e arrumando o que tem dentro de você.

Jogue fora tudo que não te serve mais

Se liberte!!!

Já parou para pensar que o assassino está solto enquanto você está preso?

Até quando??? "

 

(Julieta Menezes)

 

 

segunda-feira, 17 de maio de 2010

*LAMENTO SOLITÁRIO*

           "Sou como uma veia de metal fria
 
percorrendo uma rua solitária...

Talvez eu esteja escondida no meio das montanhas...


     meus pés se arrastam por um solo bruto e quente::

Estou perdida em um abismo ilimitado...

               em uma noite profunda e sem horizonte...

Ainda não sei sofrer como deveria::
 
 
olhos...salivas...secam...
 
 
dentes...
sorrisos...pecam...
 
 
minha meta é andar... sair do lugar...
 
sem casa...
 
      sem canto...
 
             sem encanto...

Esta grande noite me assusta::

  é a angústia que me oprime?

A angústia da metrópole que me enterra até o pescoço?
 
Enxergo corpos em toda direção
 
sou mais um...
menos um...
 
diante de toda multidão!
 
                  ...singular no plural
 
     Não sou a
matemática solitária::
 
Sou o
'só' que se perde no conjunto...
 
      Lamento...
 
              Sentimento...
 
                     Tormento...

Minha boca, como ferida, pede apenas que seja fechada.

     ...minhas mãos estão presas ao corpo como um cão indiferente.
 
Procuro por um grão...para dividir um pão...
 
       Procuro por um sorriso
... para dividir amigos...
 
Durmo
sem deitar...
 
     Castigo
sem mastigar...
 
Coração sem lar...
 
          Onde
eu vim parar?
 
Não importa...
 
...hoje vivo 
sem par...
 
      Existência pede clemência!
 
Sono
com abandono...
 
           travesseiro
sem dono...
 
Insônia vazia
 
               alegria com azia
 
Não importa...
 
         sigo abrindo a porta
 
às vezes reta...
 
          
às vezes torta...
 
Será que estou morta?

              ...senhor mantenha-me acordada ao menos uma vez."

(Julieta Menezes)
 
 


 

sexta-feira, 2 de abril de 2010

*FELICIDADE* (poesia escrita no vôo do dia 21/04/09 as 5:20h)

 

"... a felicidade não está no cartão de crédito...

felicidade não se encontra na prótese de silicone

ela não está nem

dentro

nem

fora

nem

longe

nem

perto

 

ela está em VOCÊ

    quer saber a verdade?

VOCÊ é a <FELICIDADE>

Não a procure em caminhos diversos

Não acredite sempre no que te dizem

Não só enxergue o que teus olhos vêem

A FELICIDADE não chegará até você

Compreendo que é difícil de entender

Amor hoje se vende

Não se sente...

Beijo se pede

Não se dá...

Por isso que é tão difícil de aceitar

Nada disso pode ser ensinado

Mas sim experimentado

A experiência nos leva ao sentimento

O sentimento nos leva ao encontro consigo mesmo

Esta é a beleza da vida

Bem...

Só posso falar por mim

Sou consciente do tempo, dos segundos e da hora...

Mas também sei que a FELICIDADE não está no amanhã

Acredite: < ela está no agora>

Ela é o momento

De puro sentimento

Jogue fora os padrões

Delete-os

Eles não servem para nada

Só para o aprisionamento

É assim que quer viver o momento?

Não escrevo absurdos

Não busco por produtos

Da árvore somos o fruto

Não entenda como insulto."

(Julieta Menezes)

 

quarta-feira, 24 de março de 2010

*MEU PAI*(22/03/2010)

 

"Hoje aprendi com meu pai...

Que o pouco é muito

Que o melhor da vida é a própria vida

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que um gesto é a existência

Que o 'detalhe' faz a diferença

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que respirar é mais importante que o 'abrir' dos olhos

Que o 'sorriso' é nossa telepatia

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que todos são especiais

Que o amor pode crescer ainda mais

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que a elegância está no caráter

Que alegria mora na alma

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que obstáculos são superados

Que seus filhos são por ele amados

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que a bondade nasce

Que a esperança não é a última que morre, ela simplesmente não morre...

 

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que o amo mais do que ontem

Que amanhã amarei mais que hoje

 

Hoje aprendi com meu pai...

Que não existe melhor professor

Hoje aprendi com meu pai...

Que a melhor escola é o 'amor'."

 

(Julieta Menezes)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

*INTERVENÇÃO CORPORAL*

 

"Pensar em um corpo que se move é como mergulhar em um oceano de indagações inconscientes, transgredir a matéria, a carne, o que se toca. 

Ser o corpo que se move, que dança, balança, inventa  e reinventa não só movimentos, mas sentimentos que se transformam em forças criadoras, é como transcender a visão, seguir a pulsação do coração, este sai do centro passeia por todo corpo e se esconde nos pés do bailarino. Agora confio no meu corpo, ele é genial, me equilibra no desequilíbrio e me conscientiza no inconsciente, o corpo invertido brinca com a física; a gravidade é o desafio do êxtase, é preciso sair da lógica e do racional, da sua casa, da sua casca, nascer para você, sair em direção ao mundo, isso é se conhecer. 

Ser o corpo que dança é muito mais do que pensar em um corpo que se move, o bailarino enxerga com as plantas dos pés e toca com os olhos rumo ao infinito. A visão caminha ou a vida paralisa quem não sabe andar, coloca um pé na frente do outro, quem sabe coloca um olho diante de cada pé que o move. Respiro e me desperto, danço, salto, corro, o equilíbrio está nos meus pés, lá onde o coração pulsa intenso, construído como um refúgio ou um hábitat, nasce como uma partitura musical, ângulos diferenciados, desvios calculados, a matemática do corpo busca a paz do plano, o ouvido escuta o silêncio visceral do corpo que se move, que dança e se contorce, o sensível não se esconde na carne, mas transpira por cada poro da epiderme,ultrapassando os mais ínfimos limites do humano. Danço não apenas para encantar ou me mostrar, mas para me entender, me enxergar; a alma é meu espelho, reflete não somente as curvas do meu corpo, as contrações dos meus músculos e o sorriso na minha face, mas principalmente os meus sentimentos, dos mais simples aos mais complexos, tudo é tão intenso que me aquece e me nutre até os limites mais íntimos da vida.

Ser o corpo que se move não é se prender a regras e estabelecimentos formais, é se despir emocionalmente nos contornos da rua, ao redor do meu corpo encontra-se o caos das avenidas turbulentas de ar irrespirável, espalhados por asfaltos, calçadas e esquinas. Individualizo-me na multidão, escrevo com meu corpo a minha história. A carne, o sensível, o corpo é meu saber, aprendo o sentido da vida com cada movimento que dança em mim, nenhuma regra, nenhuma ordem pode atrapalhar minha 'felicidade cultural', carregada de sabedoria e sagacidade, sem lógica, sem cálculo, dispondo apenas de um espaço de paz, nossos corpos ainda podem ser acolhidos livremente pelo forte vento e pelo grande sol neste ano de 2010. Se meu corpo se entrelaça com os espaços urbanos que se multiplicam constantemente, meu tempo se enlaça com os tempos da terra, da evolução e da história, quantos dias e noites minha carne constituída de verbo, ora música, ora dança, permanecerá dançando em equilíbrio instável sobre todas suas partes, segura e insegura, pontiaguda e cortante ao sabor desta imensa vida que vibra nos contornos do universo em movimento? Quanto ao meu corpo que dança não lamento ter sofrido nenhuma queda, hematoma, corte ou medo, a sensação guia a vida, vivo intensamente a alegria, a dor, a agonia e a aflição dos gritos ensurdecedores.

Ser o corpo que se move é sobreviver à cegueira da humanidade, ele não se ilude, mas silencia, ele diz a verdade, mas nós a ouvimos mal. Fugir da dor? Do medo?

O corpo não pode ser covarde, a coragem é a qualidade do 'guerreiro', a dor faz do meu corpo o que sou hoje, sou o que danço. Na 'escola da vida' meu corpo vai as ruas, voa e aterrissa, em cada 'intervenção' mergulho na aprendizagem dos gestos, na escuridão do meu sangue, nos pensamentos que não penso;saber é esquecer. O movimento ágil e a passagem para ação exigem um certo tipo de inconsciência, pois assim habito melhor meu corpo  e posso comandá-lo, esqueço dele, pelo menos em parte. O corpo que dança não pode ser ausente, um transparente mudo, um ponto do mundo sem lugar, um não-eu, preciso sentir meu corpo se desarticular, o músculo se afastar, preciso ouvir os lamentos do meu corpo para chegar ao silêncio, preciso infinitamente 'dançar'!"

(Julieta Menezes)