segunda-feira, 17 de maio de 2010

*LAMENTO SOLITÁRIO*

           "Sou como uma veia de metal fria
 
percorrendo uma rua solitária...

Talvez eu esteja escondida no meio das montanhas...


     meus pés se arrastam por um solo bruto e quente::

Estou perdida em um abismo ilimitado...

               em uma noite profunda e sem horizonte...

Ainda não sei sofrer como deveria::
 
 
olhos...salivas...secam...
 
 
dentes...
sorrisos...pecam...
 
 
minha meta é andar... sair do lugar...
 
sem casa...
 
      sem canto...
 
             sem encanto...

Esta grande noite me assusta::

  é a angústia que me oprime?

A angústia da metrópole que me enterra até o pescoço?
 
Enxergo corpos em toda direção
 
sou mais um...
menos um...
 
diante de toda multidão!
 
                  ...singular no plural
 
     Não sou a
matemática solitária::
 
Sou o
'só' que se perde no conjunto...
 
      Lamento...
 
              Sentimento...
 
                     Tormento...

Minha boca, como ferida, pede apenas que seja fechada.

     ...minhas mãos estão presas ao corpo como um cão indiferente.
 
Procuro por um grão...para dividir um pão...
 
       Procuro por um sorriso
... para dividir amigos...
 
Durmo
sem deitar...
 
     Castigo
sem mastigar...
 
Coração sem lar...
 
          Onde
eu vim parar?
 
Não importa...
 
...hoje vivo 
sem par...
 
      Existência pede clemência!
 
Sono
com abandono...
 
           travesseiro
sem dono...
 
Insônia vazia
 
               alegria com azia
 
Não importa...
 
         sigo abrindo a porta
 
às vezes reta...
 
          
às vezes torta...
 
Será que estou morta?

              ...senhor mantenha-me acordada ao menos uma vez."

(Julieta Menezes)