sábado, 28 de abril de 2012

*RELATO*

1 ou 2 = 0
Talvez sejamos um ou uno. Sinto-me como um grande corpo constituído de infinitas células, variados tamanhos, formas, texturas, encontros e desencontros entre sólidos e líquidos, uma soma, uma multiplicação, muitas vezes se aproximam, em outro momento, se afastam... Procuro caminhar por esta ponte sem muita sede, sem muita fome, a comida precisa ser mastigada lentamente, o aparelho digestivo da alma precisa de tempo enquanto a água que bebo precisa escorregar para não engasgar. E são tantos alimentos novos antes não provados. Para mim sempre existe uma mistura de encantamento com realidade no ato de mastigar novos sabores. Continuo a andar ampliando este fio condutor do meu corpo em relação a este grande corpo que piso... que respiro... que me derramo... que adormeço e desperto. Muitas vezes a pele está exposta no invisível que piso. Hoje meu lugar é aqui, sem medidas de contentamentos, com lágrimas e sorrisos continuo a ser o corpo que ajuda a escrever a história. Como diz Gil:'o melhor do mundo é aqui e agora' ou seguindo mais inspirações somamos o Caetano:'o melhor lugar é ser feliz' Sigo contamplando o sentimentos... Novas direções... Novos modos de pensar... Novos modos de ser... Quero sugar da vida o impossível que nela se oculta, com a alma florida e uma vontade imensa de compartilhar. Comemora-se a vida dançando!! Preciosa seja a arte que escorre pelas ruas, que se desdobra no ato da criação, redescobrindo ainda o que não se viveu. O mundo sem a arte seria um mundo contraído do hábito, tudo tão pouco, tudo tão idêntico. Automatização. Nada de novo. Um mundo de produção em série. Nós escravos do hábito e do tempo, remando, cheio de bolas de ferro nos pés, que nos aprisionam ao fundo do barco. Não vemos o mar. Não vemos o céu. A travessia está interditada. Porém a construção desta ponte que nos leva a pensar, questionar, agir, transformar; é possível. Como diz Saramago: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." Julieta Menezes